domingo, 16 de outubro de 2011

TALVEZ...




 A campainha tocou uma vez, mais não quis me mover, continuo sentada no sofá, encolhida, com as pernas comprimindo o peito numa tentativa louca de amenizar a dor. Ela toca novamente, meu coração sobressalta querendo saber quem seria, mais continuo estática, como se as forças me faltassem às pernas. Vendo a casa escura logo desiste. Volto ao silêncio com meus pensamentos, com minha dor.
A lua insiste em entrar pelas frestas da janela. Preciso colocar a cortina. Coloquei uma música pra tocar, ela é o que menos importa neste momento. Sinto vontade de falar com você. Falar desse bicho que me devora por dentro, falar da sua indiferença, da minha tristeza.
Falar dessa dificuldade de me relacionar com você. Falar dessa dor indescritível, inominável... Falar dessa vontade de largar tudo e todos num ato impensado e sair mundo afora, andando sem rumo, como o personagem Travis do filme Paris Texas. Falar da vontade que tenho agora de me atirar da escada para que a dor seja maior do que esta que estou sentindo. A sala continua na penumbra, a música a rodar no aparelho. Ouço o trem chegando, ou estará indo embora? Gostaria de lhe falar de ir embora, do medo que é partir, no entanto sempre parto.
Pego um recorte de uma revista e vejo-a fragmentando-se no ar, se o que ela representou em certo momento nunca houvesse existido ou talvez não fizesse mais sentido. Penso que talvez eu que me sinto fragmentada. Tenho medo do presente, do futuro, gostaria de poder voltar atrás, começar novamente, de cometer menos erros. Dizer tudo o que não foi dito, de talvez ouvir, se é que ainda tem algo para me dizer.

Talvez você não esteja entendendo nada do que eu estou falando, ou não lhe faça sentido.
Sentido... Talvez não haja um sentido. A sala continua na penumbra, fria. Tenho vontade de vomitar, mais não vou fazer, tento me fixar num ponto mais não consigo ver nada. Não sei quanto tempo estou assim, também não sei quanto tempo isso vai durar, nem tampouco como começou.
Ah me lembro sim, começou com uma lembrança, uma saudade e de repente foi crescendo, crescendo e aos poucos fui me encolhendo e aqui estou.
Talvez você dissesse que é tudo criação da minha cabeça. O guarda noturno apita lá longe. Fecho os olhos, dentro de mim, não consigo deixar de pensar que há alguma espécie de sentido nisto tudo.
A cada vez que me olhas ainda sinto o fogo arder nas minhas entranhas, me dá uma vontade enorme de me deixar consumir. De ir tão longe como nunca ousei. De andar pelos lugares mais sórdidos, pecaminosos. De ir andando feito uma loba esfomeada, pelas ruas, te buscando em cada homem que encontrar pela frente, sorvendo das suas bocas o gosto dos seus lábios, sentir-me embriagada com o cheiro do seu corpo.
Tenho tanta coisa pra falar, mas talvez você já não queira ouvir, talvez nada disso faça sentido.
È melhor eu ficar aqui encolhida, ouvindo o guarda noturno apitar lá longe. Fixar-me num ponto e não conseguir enxergar nada, ouvir uma musica que não importa neste momento.
Ficar com esse bicho me devorando por dentro, me levando á loucura, ou talvez á morte. De ver um recorte se fragmentando no ar. Mas logo amanhecerá o dia talvez seja quente, ou frio, talvez isso não me faça sentido.


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